17 de agosto de 2015

Festival Paredes de Coura aquece motores para a 23ª edição e para glorificação do ouvido musical com Tame Impala, Allah-Las, Fuzz ou Charles Bradley

Paredes de Coura volta para a glorificação do ouvido musical com Tame Impala, Allah-Las, Fuzz ou Charles Bradley

Volta o encanto em redor da praia fluvial do Tabuão, cenário de paixões de múltiplas gerações, de mergulhos revigorantes, de encontros de devotos da cena musical alternativa e tantas, infindáveis, tão presentes, memórias inesquecíveis. Paredes de Coura é a vila do Alto Minho que consagrou um festival com o melhor do País, pelo seu anfiteatro natural, pelo protagonismo do seu cartaz, pela harmonia geral, tremendamente sedutora para o espetador habitual como para o estreante visitante. Mesmo com a saturação de festivais no calendário, Paredes de Coura é e será um marco, um pretexto, uma escapatória, uma glorificação do nosso ouvido musical. A 23ª edição acelera para o seu início, que acontece já quarta-feira, com um naipe de bandas que tanto estimula como fará delirar, percebendo-se que está praticamente assegurada como mais um grande sucesso, não só levando em conta as extraordinárias vendas de ingressos já efetuadas para um carrossel de grandes concertos entre 19 e 22 de agosto.



É, com toda a certeza, o cartaz mais refrescante e cativante dos últimos anos, reunindo nomes que, juntos, escrevem o presente e futuro da música indie e psicadélica. É um cartaz que atinge com estrondo o público mais sintonizado com as novas correntes, as novas vagas, prescindindo de dinossauros e bandas lendárias com a certeza que tem arrojo suficiente para enamorar e deliciar a plateia. Há atrevimento, há magia no ar, há música para desencadear doses colossais de farra, espreitando propostas imperdíveis que vão de Tame Impala a Allah-Las, de TV on the Radio a Charles Bradley, de Slowdive a Fuzz, de Mark Lanegan a War on Drugs, passando por bandas como Temples, White Fence, Iceage, Father John Misty, Pond, Lykke Li ou até mesmo Legendary Tigerman, o projeto de Paulo Furtado, nome incontornável na excecional e única atmosfera de Paredes de Coura, que se estreou em 1994 com os Tédio Boys e já teve honras de fecho do palco principal com Wraygunn. X-Wife e Peixe Avião serão outras bandas portuguesas em destaque nesta 23ª edição do Festival Paredes de Coura.



Discorrendo as atrações maiores, o primeiro dia marca o regresso a Portugal dos TV on the Radio, acenando aos fiéis com um novo trabalho ‘Seeds’, o primeiro após o falecimento do baixista Gerard Smith. Antes da entrada em palco dos nova-iorquinos, prevê-se um ambiente comprometido com o shoegaze dos ingleses Slowdive, renascidos nos últimos anos e contemplando a adulação do público português, bastando atentar na íntima relação estabelecida no Primavera Sound, no Porto, em 2014. Empunhando esse álbum bandeira do género shoegaze, ‘Souvlaki’, o grupo de Reading regressa a Portugal com aquele jeito de desenhar paisagens sonoras magnetizantes.

Cabeças de cartaz da segunda noite, os Tame Impala servem-se do novo álbum ‘Currents’ nesta quarta visita a Portugal, depois de terem passado por dois Super Bock Super Rock e um Optimus Alive. Kevin Parker teve a ousadia de mudar o registo da banda australiana, mascarando a inspiração psicadélica pela vertigem da pista, abraçando uma espécie de pop sintética. Presumivelmente responsáveis por grande parte da afluência à Praia do Taboão, os Tame Impala encabeçam o cartaz na noite de quinta-feira, fechando o palco principal, depois das atuações de Father John Misty, que trará a Paredes de Coura ‘I Love you, Honeybear’, trabalho pelo qual tem sido aclamado como porta-estandarte do folk, e do incendiário Legendary Tigerman. Mas não se esgota no palco principal a pujança do festival, sendo o dia 20 reflexo da qualidade do cartaz, que permitirá ver no palco secundário grupos como Pond, que partilham elementos com Tame Impala, White Fence, de Tim Presley, mente criativa permanente mergulhada na influência psicadélica dos sessentas, e Iceage, num regresso mais amadurecido a Coura. Os dinamarqueses conjugam um lado mais obscuro com outro mais fulgente, alternando revolta e harmonia nas suas guitarras.



Chegados a dia 21, já de barriga cheia por um punhado de atuações irresistíveis, há uma noite mais eclética, pedindo adaptação e compenetração. Os X-Wife abrem hostilidades, deixando caminho cimentado para a estreia absoluta dos californianos Allah-Las, embalados pelo novo disco ‘Worship the Sun’, banhado em referências dos sessentas, que vão do garage rock ao surf e preenchido por uma vibração psicadélica.
Depois deste furacão será hora de levantar o pano para ver Mark Lanegan, autor sublime de canções de folk-blues sombrias, acabado de lançar uma antologia da sua carreira a solo. O carismático músico, ex-líder dos Screaming Trees e senhor de extensas e impressionantes colaborações com Queens of the Stone Age, PJ Harvey, Isobell Campbell, constitui mais um regresso ao festival minhoto.
Momento marcante será a subida ao palco de Charles Bradley, transformado em nova estrela do soul e do r&b depois de uma longa vida sofrida, longe dos grandes palcos. O músico norte-americano fez de tudo na vida até ser encarado a sério pela sua voz arrebatadora.
A noite será fechada com o selo de qualidade dos The War on Drugs e o seu terceiro álbum de originais ‘Lost in the Dream’, aclamado pela crítica e homenageando os traços singulares de cantores como Bob Dylan e Bruce Springsteen.




Na última noite atenções postas na pop intimista da sueca Lykke Li, que granjeia inúmeros fãs por Portugal, aparecendo em Paredes de Coura para o único concerto de Verão fora do roteiro nórdico. Mas também há razões fortes para chegar mais cedo junto do palco principal, face à explosão sonora que se vislumbra e se anuncia pela presença dos britânicos Temples, que com o seu álbum ‘Sun Structures’, recheado de temas poderosos, ganharam outro estatuto na nova cena psicadélica. Pelo palco secundário vão estar os Fuzz, obstinados pela vertigem que o nome sugere com o destrutivo Ty Segall na bateria, encarnando a raiva punk e a selva garage rock com um estilo demencial em formato trio. A música despede-se de Paredes de Coura com a eletrónica dos Ratatat e com a sonoridade hipnótica e delirante, já em ritmo after hours, dos Soft Moon.

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