16 de junho de 2010
A loucura de Madrid contada no Go Sinner Go
Dois dias em Madrid seriam susceptíveis de uma visita ao Prado, ao Santiago Barnabéu e a muitas e distintas artérias comerciais que correm e relevam a imponência arquitectónica da capital espanhola. Pois, em Junho, há mais que isso, há um programa integral para apaixonados dos sons selvagens dos sessentas. Retrato de uma cidade vestida para celebrar o passado e glorificar bandas cimeiras do movimento garage. Os Birds e os Standells foram convocados para abrilhantar cada uma das noites do Go Sinner Go, festival que decorreu na Sala Caracol com uma festa pelo meio na Boca del Lobo. A euforia com a visita de gente tão ilustre, a entrada limitada a 450 pessoas, conduziu a duas enchentes e um ambiente sempre abrasivo e colorido, notoriamente fashion, da elegância mod ao culto pelo visual mais retro. Horas de música, horas de vicios, horas de tentação...exageros inevitáveis entre a paixão arrebatadora ao som disparado de uma espécie de terceiro andar da Sala Caracol, claramente a hipotecar pedidos da assistência. Mas, esses, eram totalmente desnecessários, face à pilha infinita de garage das selecções do riquíssimo plantel de dj's, vários ao longo de cada noite, a levarem a festa até de manhã com soul, boogaloo, r&b, garage e punk, sempre com bom gosto e vincada direcção para fazer ferver a pista de excitação. E até tarde foram muitos os que nunca arredaram pé de mais uma doce sensação de conforto auditivo, mesmo em alguns casos capaz de recuperar os mancos, adormecer as dores e estimular espectacularmente os sentidos. Colossal Madrid, super Go Sinner Go, acolhedor Sala Caracol, ingredientes de um fim-de-semana memorável longe de outros encantos madrilenos, como a noite da Malasana, as tardes de Lavapiés ou o normal encaminhamento para uma rota cultural pelo requinte e charme de Madrid.
Mas, falando de música, o Go Sinner Go teve a excelência de tributar alguns dinassauros do garage. Os Birds, unicamente com o seu vocalista original fizeram bem mais que uma visita simpática, e através de temas como 'No Good Without You' ou 'Say Those Magic Words'. encheram-se de pujança e cortesia para uma actuação que conquistou a plateia, já antes entregue à loucura com o concerto dos Gravedigger V. Com Leighton Koizumi (Morlocks) não há quem possa resistir a apreciar esta lendária e polémica figura do garage, tal é o furacão que instala em palco com os seus movimentos vibrantes e gritos selváticos. Todo um frontman irresistível na performance, que acompanhado de um conjunto de músicos espanhóis, incluíndo peças dos valencianos Wau y los Arrrghs, acende rastilho ao caos. Os Mean Things (França) abriram hostilidades na primeira noite mas foram, sem sombra de dúvida, a banda mais fraquinha do festival, desesperadamente repetitiva e excessivamente descontrolada nos tiques. Na segunda noite, houve logo uma surpresa chamada De Keefmen, trio holandês eléctrico e ruidoso, desconcertante e calibrado na sua acção, pontuando a actuação também com algumas boas versões. Um pouco de boa histeria à moda de Staggers...Fechada a cortina (apontamento deste Go Sinner Go), reabriu-se meia hora mais tarde para receber os austríacos Jaybirds, velhos conhecidos do público espanhol e senhores já de uma admirável carreira, que tarda em trazê-los a Portugal, à semelhança de tantos mais nomes. Na senda dos Pretty Things, em registo perfeito r&B deram toque de classe ao festival, fazendo o deleite dos fãs com a sua inteira genuidade dos sixties. A noite fecharia com os Standells, em bom estilo e com os seus momentos altos. Alguns hinos das compilações Nuggets puseram muitos a cantar em alto volume e em doses bem claras de euforia. FOi o caso de 'Sometimes Good Guys don't wear white' ou o último acto ao som do aclamado 'Dirty Water'. A quinta edição foi esplendorosa, a sexta é já muito desejada. Resta a certeza de uma organização atenta aos mais pequenos pormenores, capaz de conjugar tão bem o passado com o presente.
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