16 de novembro de 2010

King Khan & the Shrines é luxo em qualquer parte do mundo e também o foi no Barreiro


E o Barreiro coroou King Khan, acompanhado da mais sensacional banda de apoio, The Shrines. Eles investiram arte, dinâmica, volume e quem não aqueceu é porque veio a gelar de casa. Foi quente, bailável, arrebatador.

É um arranque possível para uma história de duas noites desconcertantes, de música servida num pavilhão do Grupo Desportivo os Ferroviários (mais habituado a noites de fado ao sábado), lotado e carregado dum ambiente digno daquela que foi a décima edição, Um sucesso pleno e um exemplo de organização para o país. E num detalhe grandioso e gracioso destaque para a presença desse cicerone da velha escolha, o afável e popularíssimo Crooner Vieira, um apresentador mestre e um cantor de classe.
O Barreiro respira excitação musical por entre ruas cinzentas, sujas e algo degradadas. Ali aprende-se e ensina-se a curtir rock'n'roll. A capital é uma muleta preciosa aproximada pela travessia de barco, curta e elegante, desde o Terreiro do Paço. O Barreiro juntou a estes, grupos vastos de Porto, Coimbra, Alentejo, Algarve e mesmo de Madrid, com esse grande Gerardo dos Los Chicos.

Foi uma festa levada pelas manhãs, calibrada com a arte de bem receber e pela celebração colectiva dum estado de espírito de sentir e vibrar com o garage ou o soul, de fazer ruído, cantar e confraternizar, num bar tão familiar e acolhedor, recheado de troféus, orgulho duma associação, que empresotu um serviço de alta qualidade a baixo preço, para perto de mil pessoas. Percebeu-se bem a dimensão do festival no sábado.


O cartaz voltou a ser grande como noutros anos. King Khah & the Shrines é só por si nome para encher uma página de qualquer publicação pelo colorido e grandeza do show. O indiano radicado no Canadá é todo ele um personagem de alma cheia, que anda mais moderado em termos de apetite pelas excentricidades, não deixando de ser altamente picante e super estimulante em palco. Ele carrega a aura de estrela e toda a banda embarca numa viagem pelo seu mundo à parte, perverso e tresloucado, envolvido por andamentos por Berlin, Atlanta ou Montreal. O ritmo acelerado leva a multidão ao delírio. Um esplendor visual e um som a entrar disparado e viciante pelos ouvidos de todos na assistência, com evidência para os últimos albuns na companhia dos ilustres Shrines: The Supreme Genius of King Khan e What Is. Tudo a dançar numa incrível partilha de adrenalina, fulgor e sede. Belo e fotogénico...mesmo desde o chão sem risco de pisadelas ou cortes. O respeito imperou.



Se começar por King Khan era obrigatório e imperioso, era também forçoso montar o quadro deste décimo Barreiro Rocks a partir do sábado. Do importante para o acessório...dizem as regras. Acessório porque o caríssimo repórter que está a adorar escrever estas coisas desorganizou-se nas horas e na viagem desde a Invicta. A equipa que veio do Porto reforçou-se em Lisboa, a fome apertou, as viagens somaram-se e a pontualidade ficou distante. Ty Segall e Demon's Claws não esperaram. Esperaram os Strange Boys e foi uma seca. Sobrou o consolo tardio dos Thee Vicars, embora também eles bem menos potentes e interessantes do que se vira, por exemplo, no Porto, no Armazém do Chá, há sensivelmente um ano. Alterada e reduzida a composição da banda, notou-se menos gás e excitação em palco. Talvez algum maior acerto musical, neste caso pouco compatível com a raiz que serviu o nascimento desta banda inglesa, afamada pelo total descontrolo. Não ajudou, por certo, o facto de terem sido relegados para uma espécie de after-party confuso. Tocaram de seguida a Strange Boys no mesmo local...mas para menos cinquenta por cento da casa. Estranho para o público que resistiu e ainda dançou loucamente e mais intrigante para o grupo.

Recuperando o importante...segundo dia...sábado...ressaca ligeira, tarde bem preparada com agradáveis ginginhas e uma espectacular descoberta da Casa do Alentejo. Cartas lançadas e depois do jantar o embarque do Terreiro do Paço, bem mais pontual, a tempo de dar um cheirinho a Tiguana Bibles, apreciar o projecto de Nick Nicotine e catapultar para a frente o corpo para ver pela segunda vez num curto espaço de tempo os Davila 666. Que grande actuação deram os miúdos de Puerto Rico, que já tinham convencido entre os melhores no Dracula Festival. Punk rock soberano, atitude de quem veio para fazer a festa e sentir o calor da atmosfera do Barreiro. Deram tudo, foram brilhantes e o público retribuiu com saltos e já ninguém arredou pé da frente para a recepção ao genial e incomparável King Khan...

Depois foi tempo de bailar sem concessões, apreciar o vasto merchandising com destaque para a tenda dos amigos da Groovie Records, conversar ao ritmo de cerveja barata, rever conhecidos, ligar e desligar a corrente, saborear o ambiente e engraçar com muita sensualidade e estilo presentes no Barreiro Rocks 2010. O décimo foi um marco e deixou a certeza de potencial para mais dez anos de grandes histórias e fantásticos concertos.

E depois anda ali à mão de semear o mágico Alburrica, maravilhosamente gerido pelo senhor Adriano, um exemplo de anfitrião, um craque a passar música. No bar a mesma, fogosa, maldita e amável menina que espalhou cortesia pelo bar do festival, Atendimento de classe. A festa prolongou-se e o sábado entrou pelo domingo e a viagem para o Porto esteve em risco, mas sem pressas, sem nervos, deu para jantar com distinção. A culpa foi do carro mas havia ali qualquer coisa a pedir mais e mais momentos de celebração. Agradecem-se as peripécias. Quem diria...nostalgia por uma incursão ao sul. Remédio santo...Voltar ao Barreiro já no dia 27 com o Club Garage.




















assina Pedro Cadima (estranho redactor e paciente condutor)
verdadeira fotografia gônzica a cargo de Paulo Cunha Martins
agradecimentos às companhias de Angelo Vicente, Eduardo Gonçalves e Mariana Velhote
agradecimentos à hospitalidade de Filipa Varanga
e saudações festivaleiras a todos os conhecidos e desconhecidos que andaram por ali...Barreiro Rocks 2010 foi imagem de uma notável família

1 comentário:

  1. O melhor que já li sobre o Barreiro Rocks deste ano. É pena que a sexta-feira não tenha sido contemplada com comentário mas percebeu-se porquê. Abraço.

    PS.Parabéns também pela "coragem" de chamar chatos (que o são mesmo e de que maneira) a uma das bandas da moda, os intragáveis Strange Boys.

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