1 de março de 2010

Fantas recebeu Ministra da Cultura


A passagem do primeiro fim-de-semana trouxe as primeiras enchentes ao Fantasporto, reflexo da sessão oficial de abertura e da exibição de alguns dos filmes mais esperados. Ao acto mais pomposo compareceu a Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, desafiada a responder às queixas tão recorrentes da organização do festival, forçada ano a ano a delicada ginástica orçamental para manter vivo o Fantas e dotá-lo de pujança e prestígio para o futuro. Fazendo uso desse espírito de resistência e persistência, embalado pelo amor e carinho de um Porto cinéfilo, o Fantasporto apresentou-se em 2010 como um distinto trintão mas já a aparentar rugas de aturada luta contra às adversidades. O cartaz, não é novidade para ninguém, está longe de equiparar à força de nomes do passado, acaba por ser pouco ousado em novidades, socorrendo-se das retrospectivas e dos grandes premiados para continuar a merecer olho bem aberto da crítica especializada e dos crónicos espectadores. Destacado como um dos 25 melhores festivais do mundo pela Variety, o Fantas não deixa de fazer grande eco fora de Portugal, sendo perceptível, sobretudo, a invasão espanhola por estes dias à Invicta e aos assentos do Rivoli.



Exemplo flagrante das dificuldades acabou por ser a selecção de Solomon Kane para a gala de abertura, logo em dose dupla, bem dispensável, tratando-se de exercício deveras descartável de aventura/fantasia cheia de clichés, diálogos baratos e desempenhos artificiais. A representação do filme esteve, no entanto, em força no Porto com o realizador Michalle Bassett e o produtor Samuel Hadida, ligado a filmes de culto como True Romance ou Killing Zoe. Da passada sexta-feira o ponto forte assentou mesmo nos discursos oficiais...de Beatriz Pacheco Pereira, Mário Dorminsky, duo que dirige o Fantasporto...e claro da senhora Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, que definiu o evento como produto cultural de elevado e inestimável valor para o sector audiovisual português. Na sua intervenção, fez questão de trazer uma mensagem de esperança quanto ao futuro do festival numa altura em que sobre o mesmo emergem incertezas. Deu corpo às balas, ouviu pelo centralismo cada vez mais gritante e sufocante de Lisboa, e também pela indiferença dada à Cultura em Portugal em termos orçamentais, sem escapar, claro está, às bicadas pelo apoio escasso votado pelo Estado ao Fantasporto. Mas ficou patente uma nota de incentivo para o futuro, transmitida pela simples presença de tamanha figura do Governo e, igualmente, por uma carta deixada pelo deputado Honório Novo (PCP) ao cuidado de Mário Dorminsky, lida no Rivoli. Documento esse, que resumido, revelou o desejo de votar em Assembleia da República uma comparticipação maior do Estado ao Fantas, numa lógica de actividade potenciadora de lucros para a área do Turismo.



Tirando o enfadonho Solomon Kane, houve dinâmica e entretenimento na sessão de abertura, marcada especialmente pelos avanços da robótica, temática tratada e desenvolvida nesta 30ª edição do Fantasporto, através de uma panorâmica cinematográfica e workshops.


Em termos de qualidade da selecção oficial do festival, o sábado devolveu ao Fantas a sua melhor imagem com o francês 'La Horde' e o sul-coreano 'Thirst' a fazerem encher o Grande Auditório do Rivoli e a arrebatarem palmas bem justificadas. O primeiro foi apresentado pelos seus realizadores e levou à tela uma bela e bem humorada caçada de zombies. Quanto a Thirst o cartão de visita já era poderoso, deixou rastilho a muita discussão em Cannes, e estava creditado como mais um filme do imaginário de Park Chan Woon, aclamado pelo sucesso de Oldboy. Debaixo de um enfoque polémico, o realizador transforma um padre num vampiro sedento de sangue e louco pelos prazeres da carne, após participação numa experiência médica em África. Desvario total, personagens exploradas até ao tutano numa viagem salpicada de sangue, mas também repleta de um excelso toque sarcástico ao que pode ser o prazer de matar para saciar o mais louco apetite. Do dia, nota muito positiva para 'First Squad', filme de animação co-produzido entre russos japoneses e canadianos. Arrojado e deslumbrante, este filme alude a uma guerra paralela (de poderes paranormais) entre russos e alemães em plena segunda guerra mundial. E é uma criança apoiada pelos seus amigos que define a história no momento da verdade.


Já ontem (domingo) a noite fechou com 'Dolan's Cadillac, de Jeff Beesley e protagonizado pelo conhecido Cristian Slater (True Romance). Uma vingança obestinada e meticulosamente arquitectada é o lema deste filme.

CINEMA ESPANHOL EM FORÇA ESTA NOITE (SEGUNDA-FEIRA, DIA 1 MARÇO)

A segunda semana do Fantasporto vai iniciar hoje com forte presença espanhola e, aliás, muito aguardada. Falámos, essencialmente, de REC 2, sequela que surge apenas um ano passado sobre a exibição de REC, trabalho que nasceu da parceria entre Jaume Balagueró e Paco Plaza. O Grande Auditório do Rivoli receberá a partir das 23h15 mais esta obra-prima do terror que brota a grande escala no país vizinho. Sucesso do último ano em Espanha e seleccionado para a Semana da Crítica do Festival de Cannes, 'Hierro' antecede REC2 e pode ser visto pelas 21h15.

O Fantas chega ao fim a 6 de Março, estando reservada para a sessão de encerramento a exibição de 'The Crazies', que é uma homenagem a George Romero pela 'A Noite dos Mortos Vivos'. Ao longo do dia 7 serão exibidos os vencedores das diversas categorias do festival. O Baile dos Vampiros irá pôr o Sá da Bandeira ao rubro de fantasia, cor e intensidade na noite de 6 com Dj Ride e Dj Zé Pedro entre os protagonistas da festa. Para essa tarde (17 horas) foi também agendado um encontro informal de blogues luso-galaicos, logo após exibição desse sensacional,único, bandeira da Nouvelle Vague 'Pierrot le Fou' de Godard com Jean Paul Belmondo e Anna Karina. Às 15 horas no Grande Auditório do Rivoli.

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