8 de junho de 2011

Parkinsons imparáveis em Londres


Coração musical da Europa, cidade efervescente e imparável em propostas, Londres foi uma experiência e tanto, com picos de intensidade e euforia de todo incomuns. A realização do segundo Dirty Water Festival resgatava atenções globais e colocava
ênfase no regresso aos palcos dos portugueses Parkinsons, que fizeram carreira altamente vigorosa e explosiva na capital inglesa. Sabedores da audiência feroz e fanática alinhada no Boston Arms, os Parkinsons de Afonso Pinto, Vítor Torpedo e Pedro Chau, revisitaram o seu repertório punk à moda de 77, encarnado em palco por uma atitude selvagem e frenética, que levantou aos primeiros acordes o absoluto caos numa sala clássica com capacidade para trezentas pessoas. O concerto dos portugueses foi simplesmente o derradeiro, o mais esperado e inflamado, de um dia recheado de actuações, boas quase sempre, ora fantasiosas ora mais debochadas. Ao som de Hate Machine, New Wave, Streets of London, Angel in the Dark ou Nothin to Lose, o delírio tomou conta do espectáculo de Parkinsons, sempre iguais a si mesmo, espremendo cada segundo do show com uma entrega arrebatadora, os decibéis subiram a níveis pouco habituais e o caldo de emoções disparou na linha da frente. Num desvario completo não houve contenção possível e todos fizeram balancear os corpos até que surgisse alguma barreira, gritando as letras da banda num registo absolutamente comprometido, consumindo energias até ao tutano. No meio da dedicação, pois claro está, houve muita tareia, muita nódoa negra e muito salto com aterragem directa ao solo. E o maior de todos os protagonistas, vindo de Andorra, desfilou pelo palco nu, alinhando nos coros e pulando para o meio da multidão. Foi o Kunha mais exposto e entregue que nunca. Foi uma festa farta em Londres vista por muitos portugueses e espanhóis e também por um alargado contingente vindo da Noruega.
Ao longo do dia/noite exibiram-se no Boston Arms outros grupos com selo de qualidade, casos concretos dos Revellions, Thanes ou Gravemen, estes reforçados com go-go dancers nórdicas, e ainda os Thee Exciters, num registo mais descontraído e debochado, por culpa descarada do seu vocalista, que se lançou pelo público colorindo caras e desafiando preconceitos com um baton garrido.
Se os Parkinsons motivaram a ida de muitos a Londres, a capital inglesa encheu o apetite com outras propostas irrecusáveis. Na primeira noite deparou-se-nos logo mais uma escaldante sessão das noites Neat Neat Neat no Garage, organizadas por Afonso Pinto. A punkalhada foi dominante e servida pelos locais The Ricky C Quartet e os Seminals. A assistência portuguesa esteve perto de ser maioritária, resquícios óbvios do culto que merecem os Parkinsons em Inglaterra, onde se formaram e onde se mostraram ao mundo.

Em ressaca do longo Dirty Water Festival foi-nos apresentado mais um festival no histórico Ryans, localizado em Church Street. Uma rua de topo, de ambiente relaxado e construções coerentes, em perfeita sintonia com um espaço de qualidade exemplar, munido de uma cave para concertos e uma esplanada ampla e vistosa. Pela tarde e noite desfilaram várias bandas e entre boas surpresas ficou na retina a actuação vibrante dos italianos Hangee V. Do garage ao punk passando por um cabaret manhoso, tratou-se de um combinado variado de estilos, comportamentos exaltados, que fecharam com chave de ouro um fim-de-semana de eleição.

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