7 de dezembro de 2011

Purple Weekend dos Buzzcocks e da revelação Frowning Clouds

















O Purple Weekend tributa o esplendor dos sixties e faz literalmente recuar no tempo cada um dos seus apaixonados, entretendo e viciando em cada detalhe, arrastando consigo a expressão de uma época disseminada numa colecção de imagens irresistíveis. O calor musical contrasta com o frio que domina Leon, nada melindra a reputação de um festival consagrado em 24 anos de vida, que conhecerá pela vitalidade demonstrada este ano o 25º aniversário em 2012. De grupos promissores a outros graúdos e cimeiros cozinhou-se um bolo delicioso e bem recheado. Buzzcocks com a força dos seus hits e a proeminência na cena punk, foram alavanca para uma edição absolutamente esmagadora, vitaminada por bandas variadas e realmente valiosas, público vasto e comprometido e acertadas propostas complementares, isto já para não falar da própria aragem de uma cidade monumental, artisticamente crescida e atrevida, gastronomicamente suculenta na imensidão de cafés, bares e restaurantes que emergem no seu movimentado Bairro Húmedo, dentro de Leon Gotico, retratado na sua brutal catedral e na intervenção do mestre Gaudí. Ainda para mais decorria a Feira das Tapas...
Impressionante a fresca regeneração do Purple Weekend em 2012, sofisticado, escaldante e sedutor, abraçando o seu público com propostas insuperáveis. Foram os Buzzcocks a garantir uma enchente na última noite, os Frowning Clouds a escreverem uma nova era no garage ou os Masonics a plantarem em palco uma atitude de excelência, de vigor e de punk rock acertado em cada impulso, olhar, acorde. Outros históricos como Barracudas, Lambrettas ou Roy Ellis, este acompanhado dos galegos Transilvanians, ajudaram a multicolorir e animar o ambiente.
Perfeitamente enquadrados no habital do Purple, os austríacos The Jaybirds, autênticos senhores, encarnaram a difícil sucessão em palco dos australianos Frownind Clouds, meninos que dificilmente passam os 20 anos. A competência e estética dos primeiros, mergulhados na onda freakbeat, levando a bom porto igualmente um fluido rhythm & blues, foram ao encontro da aura do festival, mas o impacto constatado na actuação dos segundos foi marca e perfume desta edição.


O grupo de Melbourne encadeou os seus temas com uma energia contagiante num frenesim garage digno das melhores comparações com pérolas das compilações Pebbles e Back from the Grave. Dotados e talhados para cintilarem a sua estrela durante anos a fio, eles conjugam autenticidade, simplicidade e pleno divertimento no palco, munidos de um som desbravado e esmiuçado nos sessentas e toda uma excelência vintage ao nível dos instrumentos, de fazer inveja. A Leon, encerrando a sua estreia europeia, vieram apresentar o single 'All Night Long', um estrondo de canção, que gruda no ouvido e arrebata ao primeiro contacto, que sucede ao album 'Listen Closelier'. Agarraram facilmente a plateia e ainda viram o retorno na compra de inúmeros discos, que desfilavam por todo pavilhão como relíquia para toda a vida.


As emoções cresceram na segunda noite, que até tinha cartaz, à priori, menos flamejante. Na primeira ainda houve o encanto de ver em palco o histórico Roy Ellis, cheio de diabruras, bailes, espargatas e cambalhotas falhadas, emprestando energia, humor e estilo a uma actuação assinalada com alguns dos seus temas emblemáticos. Fecharam os Barracudas, acompanhados de Chris Wilson (Flamin Groovies) na guitarra, pesos pesados que eclodiram no final dos setentas, conciliando e estimulando a ligação garage/rock e punk/surf. 'I Want my Woody Back' ou o contraditório (nesta altura do ano) 'Summer Fun' entre outros temas com chamariz, fizeram o público dançar, cantar e entrar em êxtase.
Para além dos concertos mais desejados guardados para o Pavilhão CHF, o Purple Weekend tem a vantagem de manter o festivaleiro entretido praticamente todo o dia, levando concertos ao Gran Cafe (15 horas), seguidos de imperdíveis Alldayer's, capazes de gerar danças frenéticas, ao som de alguns dos melhores dj's e coleccionadores de soul, beat, psych ou garage de Espanha. Por lá passaram bandas como Go Freaks ou Extended Plays.


No pós Gran Café, o centro de acção desviava-se para o Espaço Vias, equipado este ano com o mercadinho oficial do Purple, com evidência para compras de vinil, roupa e acessórios vários enquadrados na cultura do evento. Em termos de concertos destacaram-se os sempre imparáveis Imperial Surfers, e também os Groovy Uncle e os Wicked Whispers. Estes últimos, ingleses, invocaram um som mais psicadélico e acabaram por ser amplamente gabados pela estética elegante que trouxeram ao Purple Weekend. Terá sido, aliás, o melhor aquecimento para o fechar de actos no Pavilhão CHF, entre outras opções como as passagens pelo Gran Cafe ou Planeta Mongogo, que continua a ser referência para o ponto de encontro de gente da Galiza, mormente Ourense, Madrid, Leon, Astúrias, Barcelona, Valência e afins. Uma verdadeira casa de rock'n 'roll temperada com cozinha mexicana e um sabor picante inigualável e infindável.



Depois das nove da noite, os Masonics tomaram as rédeas e num ápice venceram a indiferença com um repertório garage beat vertiginoso e altamente primitivo, com raiva e estilo de mãos dadas, qualidade apurada na destreza de três músicos provenientes de projectos categorizados como Milkshakes, Headcoats, Kaisers ou Delmonas: Mick Hampshire, na voz, Bruce Brand e John Gibbs na secção rítmica.
Seguiu-se o culto mod alimentado pelos The Lambrettas, algo desgastados, ultrapassados mas, mesmo assim, deixando eufóricos alguns dos seus fãs mais fanáticos. E para encerrar o Purple Weekend 2011 uma das bandas com mais peso na história da música, mormente na definição do punk emergido em Inglaterra na mesma remessa de Clash, Pistols ou Damned. Os Buzzcocks com os originais Pete Shelley e Steve Diggle em dois acordes desde logo promoveram o caos na linha da frente. A carreira seminal desta banda coloca-a em lugar cimeiro e extremamente influente pela pujança do ritmo aliado a umas melodias que deixaram marca registada em temas como 'Ever Fallen in Love', 'Breakout', 'Harmony in My Head', 'What do I Get', 'Promises' ou 'Orgasm Addict'. Entre os saltos de Diggle e o profissionalismo de Shelley e a loucura da assistência, a banda de Bolton arrasou e ofereceu um estado de graça ao festival.


Não podia ser melhor lançada a terceira e última noite de dj's na discoteca Oh Leon!. Uma pista em pura fantasia e delírio, gritando e dançando com elegância e charme, sentindo e desfrutando do freakbeat ao psych, do soul ao rhythm & blues, além da emoção e entrega justificadas por descargas mais garageiras. Pena foi que ao contrário de outros anos não estivessem em permanente funcionamento as duas pistas que cabem no espaço. A festa ficou sempre concentrada no andar de baixo e poucos se atreveram a arredar pé da pista (só mesmo para fumar no exterior). Cumplicidade brutal, penteados cuidados, colorido abrasivo no vestuário à moda do espírito dos sessentas numa alegria de símbolos estéticos de uma época muita saudada e dominante na mente de todos que ajudaram a tornar ainda mais forte este Purple Weekend, marcado por uma extraordinária afluência, cifrada pelo concelho de Leon em mais de 12 mil espectadores.


















Fotos de Felipe Hernandez (1- Buzzcocks; 2- Frowning Clouds; 3-Roy Ellis; 4-Imperial Surfers; 5-Barracudas)
Reportagem de Pedro Cadima

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