28 de janeiro de 2010
Rua do Almada renova comércio e recupera alma
Uma revolução com três anos representa a história mais recente da Rua do Almada, situada na baixa da cidade do Porto, invadida no bom sentido do termo por uma panóplia de lojas alternativas, tão diversas quanto complementares, mas, acima de tudo, de cariz absolutamente inovador. A rua do Almada vive hoje com uma imagem renovada, especialmente nos novos públicos que chamou, mediante um conjunto de espaços directamente ligados às correntes artísticas que vieram redespertar um comércio mais específico. O aparecimento de várias lojas num reduzido espaço temporal projectou a Rua do Almada e transformou-a numa zona acentuadamente apetecível para os jovens.
Vestuário, música, ou livros são artigos que podem ser facilmente encontrados em lojas como a Louie Louie, Lost Underground, Retro Paradise, Zona 6 ou Maria vai com as Outras, para não falar também do 555, que funciona mais como lugar de regular intervenção cultural. A Rua do Almada convida à curiosidade, e a perdição por o mais raro vinil ou por uma determinada peça de vestuário vintage constituem exemplos bem comuns de todos os que cederam aos encantos desta importante artéria do centro do Porto, bem necessitada, contudo, de obras de requalificação, que a Câmara Municipal vai tardando em constatar.
Reposta alma no Almada, abriram-se outras razões de apelo à circulação na rua, e os tradicionais estabelecimentos de ferragens foram ultrapassados por lojas abertas a novas tendências, que abarcam a música, a roupa e até mesmo os livros e o artesanato. Espaços múltiplos irromperam nos últimos três anos pela Rua do Almada, e fizeram atrair atenção geral, em particular dos mais novos, dos estudantes ou simples curiosos, e também dos turistas, com relevo para os espanhóis, que não demoraram muito a apegar-se à variedade de lojas por aí disseminadas. Os discos são a mais forte atracção presente na nova Rua do Almada, e uma vasta colecção e vinis é imagem de marca de locais como Louie Louie, Lost Underground, Zona 6 e a Retroparadise. E todos apresentam perspectivas variadas na propagação do seu comércio, o que tem feito notar uma admirável onda de solidariedade e apoio entre a globalidade dos espaços.
«O facto da rua estar tão bem composta tem ajudado bastante, e no meu entender tem sido bom para toda a gente. Está em causa uma concorrência saudável e até deveriam aparecer mais espaços. Quem visita uma loja, acaba por visitar as outras, particularmente ao sábado, que é o dia mais concorrido, com muitos turistas, especialmente galegos», refere Rui Quintela, proprietário da Louie Louie, visão claramente comum a outros responsáveis.
«As lojas vão apoiando-se em termos de material, e o facto de tudo estar concentrado nesta rua tem sido positivo para todos», destaca Óscar Pinho, da Lost Underground.
E como foi possível revitalizar uma degradada e votada ao abandono Rua do Almada? Em abono da verdade e olhando a muito dos exemplos verificados, esse esforço de relançamento surgiu mesmo dos próprios moradores, numa importante maioria retratada em jovens com fortes e interessantes motivações artísticas.
«Moro aqui há sete anos, e antes não havia rigorosamente nada. Hoje boa parte do meio artístico do Porto instalou-se nesta rua e as coisas foram surgindo. Somos quase todos conhecidos e amigos», assinala Mariana Faria, que gere com mais um sócio a Zona 6.
Este foi, então, o ponto de partida na construção de um espectacular fenómeno de dinamização desta zona específica da Baixa do Porto, processo que ficou depois mais facilitado face à incrível diferenciação no valor da rendas praticadas em todo o centro da cidade. Os preços convidativos da Rua do Almada funcionaram como derradeiro impulso ao surgimento de estabelecimentos alternativos, e a abertura de lojas tem-se sucedido deste 2003. A Retroparadise transferiu-se para lá em 2003, logo depois apareceu a Louie Louie, e no ano passado o boom no Almada trouxe a Zona 6, a Maria vai com as Outras e a Lost Underground. Todos os quantos que estão hoje instalados no Almada convergem também na ideia de ser possível fazer crescer ainda mais esta tendência de afirmação da rua no centro da cidade, enquanto pólo aglutinador de múltiplos interesses artísticos, culturais e turísticos. Nesse sentido, urgem exactamente um conjunto de obras de reabilitação de lugares especialmente ultrapassados com os anos, bem como simples mas regulares operações de limpeza dos passeios, isto com a finalidade de satisfazer e estimular a circulação na Rua do Almada.
«É pena que vá faltando vontade política para reavivar a baixa do Porto», critica Óscar Pinho, numa ideia que encontra total sintonia de Ana Caeiro, uma das três sócias da Maria vai com as Outras.
«Existe muita coisa por ser melhorada na Rua do Almada, que tinha obrigatoriamente que estar mais limpa. Nem sequer existe um serviço de recolha de lixo regular. Sabendo que este é hoje um lugar com potencial turístico na baixa do Porto, só se compreendem estas carências por desinteresse de quem é autoridade na cidade».
Registos dos espaços mencionados no artigo:
Louie Louie
Esta loja nasceu da iniciativa de Rui Quintela, que juntou à Louie Louie de Braga uma outra no Porto, alojando-a na Rua do Almada em Março de 2004. As apostas preferenciais são os vinis e os cd’s usados, não tendo a loja grandes restrições em termos de géneros musicais. O carácter ecléctico está bem presente na distribuição de todos os artigos pelo espaço da Louie Louie, desde o rock ao metal, do pop ao soul, e do funk ao ska. O indie/rock é, porventura, o estilo que recolhe maior procura dos clientes habituais da loja. Dvd’s de todo o género, a preços simpáticos, também podem ser adquiridos. O vasto acumulado de cd’s usados constitui, no entanto, o ponto mais forte na capacidade de oferta da Louie Louie, tratando-se de uma das mais completas fontes de recurso sedeada no Porto para aquisição de material em segunda mão.
Lost Underground
Espaço inaugurado por Óscar Pinho em Julho de 2006, juntamente com a sua companheira Yolanda. Após 10 anos como sócio na Piranha, Óscar, baixista dos Motornoise, um dos grupos mais carismáticos do punk portuense, preferiu montar o seu próprio negócio, e encontrou as condições ideais à sua implementação na Rua do Almada. Na Lost Underground já é visível um maior direccionamento das apostas a géneros mais específicos. Sobressai, sobretudo, a qualidade da secção música experimental e jazz, e algumas apostas de cariz mais específico, como uma zona apenas dedicada ao stoner rock. Os vinis são outra atracção no interior da Lost Undergroud, mas é o próprio responsável, que reconhece a maior gama de oferta da Louie Louie e Retroparadise. Com aspecto de novidade quanto à variedade de propostas encontradas no Almada, destaca-se a introdução da venda de t-shirts de importantes bandas internacionais, e a disponibilização de revistas de referência no âmbito da música. Mais recentemente, a Lost Underground passou a receber concertos ao fim-de-semana, ao final da tarde, aproveitando nomeadamente a passagem de algumas bandas internacionais pela cidade do Porto.
Zona 6
A Zona 6 estabelece-se na Rua do Almada em Março de 2006, trazendo consigo um conceito inovador, sendo uma das raras lojas no país a gravar música em formato vinil por unidade. Para esse efeito, apresenta-se com um estúdio muito bem equipado, que vai correspondendo a preceito a todos os pedidos. Paralelamente, e por tendência natural dos seus responsáveis, a Zona 6 funciona também como espaço dedicado à produção musical, movendo-se, nomeadamente, dentro da música electrónica, hip-hop ou reggae. Fora destas áreas, a loja em si, embora de dimensão reduzida, aposta, sobretudo, na venda de discos (formato cd ou vinil) respeitando géneros para os quais está especialmente vocacionada, casos do drum’n’bass, breakbeat, dj tools, reggae, hip-hop, dub ou funk. Na Zona 6 é ainda possível encontrar todo o tipo de acessórios para dj, equipamento áudio para dj’s e músicos, ou até mesmo instrumentos musicais. Por outro lado, um pouco de forma a dar continuidade ao seu trabalho técnico de consolidação da qualidades de muitos projectos musicais, os elementos que gerem a Zona 6 estão ainda ligados à produção de eventos, que tanto podem realizar-se no âmbito da designada world music, como nas diversas vertentes da música electrónica.
Maria Vai com as Outras
Mesmo diante da Zona 6, situa-se a Maria vai com as Outras, um espaço que assume um cariz diferente, simultaneamente comercial e cultural, dedicado a artigos de autor e peças de artesanato. Uma oferta complementar marca a existência deste lugar, inaugurado em Abril 2006. A Maria vai com as Outras é muito mais que um local comercial, e demonstra vocação de estrutura com apetência para variado leque de manifestações culturais, tais como exposições, eventos de música, cinema ou teatro, dispondo para este efeito de uma cave. A livraria é, porventura, o ponto que destaca o espaço dentro do fenómeno da Rua do Almada. No interior da loja é também possível encontrar uma cafetaria.
555
Inaugurado a 05-05-2005, esta foi a combinação chave por detrás do nome atribuído a este espaço, somado ao facto de ocupar idêntico número residencial na Rua do Almada. A casa em questão, outrora uma carpintaria, foi reabilitada após sete anos de absoluto esquecimento. Em poucos meses, o 555 adquiriu o seu peso na cidade pela capacidade de intervenção cultural que veio oferecer ao Porto. Um conjunto de múltiplas divisões abre as portas a um rol alargado de actividades no espaço 555, e com muita regularidade podem-se apreciar exposições ou sessões de cinema, ou ainda assistir a workshops. A vertente de animação nocturna também entra nos objectivos da Direcção da Associação Concepções sem Pecado, a quem pertenceu a ideia do projecto 555 na Rua do Almada. Música variada e diversos dj’s convidados costumam dar vida às pistas distribuídas pelas inúmeras salas de um espaço, que, pontualmente, está também destinado ao acolhimento de alguns concertos. Cafetaria e bar completam o leque de opções disponíveis na 555.
Retroparadise
Após algum tempo sedeada no Bolhão, a Retroparadise foi a primeira loja a marcar a diferença ao implementar-se na Rua do Almada, trazendo nova aragem ao comércio típico da zona. O avanço da Retroparadise consumado em 2001 serviu de estímulo a todos os demais que vieram a estabelecer lojas alternativas na Rua do Almada. A roupa continua a ser, sem dúvidas, a imagem mais forte que transporta para o exterior, recuperando peças absolutamente raras de vestuário vintage, revivendo a história à luz da indumentária própria de cada época. Na Retroparadise tudo é reciclado e os estilos são renovados mediante uma estética muito particular, capaz de atrair públicos completamente diferenciados. Além da roupa, a Retroparadise sempre se destacou na oferta de uma vasta colecção de vinis, que percorrem os mais distintos géneros musicais, tais como o blues, o rock’n’roll, soul, jazz e música psicadélica, bem como música portuguesa ou brasileira.
Conteúdo recuperado de uma reportagem exposta no primeiro site da Audiência Zero - www.audienciazero.org/eixo. A Rua do Almada continua em alta e desde este trabalho nota para a mudança de local da Louie Louie, agora uns metros mais abaixo, dividindo espaço com a Embaixada Lomográfica. No seu sítio aparece agora a Inktoxica Tattoo, inaugurada o ano passado por Óscar Gomes,em acto que coincidiu com a realização da segunda edição de 'Alma na Rua'.
Reportagem realizada a 18 de Maio de 2007
Texto: Pedro Cadima
Fotografia: Daniel Bento
Etiquetas:
555,
lost underground,
louie louie,
maria vai com outras,
retroparadise,
rua almada,
zona 6
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
ENTAO E AS TATTOOS FICARAM ESQUECIDAS?
ResponderEliminarABRAÇO OSCAR
tá em baixo a nota disso, entretanto surgiram alterações e faço referência à Inktoxica e à sua estimada pessoa
ResponderEliminar